domingo, 2 de junho de 2013

Trânsito em Juiz de Fora

João sai de carro do bairro Bairu para trabalhar. Com ele está sua esposa e sua filha. Ele pega a avenida Rio Branco e desce a garganta em sentido ao centro da cidade. É aniversário da pequena Jéssica e ele pretende comprar um presente para ela antes de chegar ao escritório e por isso acelera um pouco mais.
            Ele para o carro no semáforo do parque Halfeld para que sua mulher desça. Ele dá um beijo tímido de despedida porque o sinal já vai abrir. Agora ficam só os dois no carro, João e a pequena Jéssica, que não para de pular e gritar cheia de alegria “hoje é meu aniversário!”. Pai que é pai não pode decepcionar um filho numa hora dessas, pensa João, e acelera mais e para o carro em frente ao colégio Jesuítas. Jéssica dá um abraço bem apertado no pai e desce pulando de alegria pela avenida Itamar Franco.
            Antes de ir ao escritório João deixa o carro no estacionamento da rua Batista de Oliveira e vai ao calçadão da rua Halfeld para comprar o tão desejado presente para sua filha. Ele entra nas Lojas Americanas, onde tem um homem grande e gordo que não para de gritar no microfone e compra uma boneca grande e loura que fala várias frases feitas. Na volta ele se lembra que tem reunião e que está atrasado. João entra no carro, deixa o dinheiro do troco no estacionamento e pega a rua Santa Rita e novamente entra na Rio Branco.
            O trânsito não está cooperando com João. O engarrafamento se estende por toda avenida. Um transeunte que passava na calçada disse que é por causa de um caminhão que ficou preso no mergulhão. João pega o celular e liga para seu chefe para avisar que vai se atrasar. O patrão dá aquele esporro em João, que não contente começa a dar socos no volante e a buzinar; e a cada vez que o carro da frente dava uma arrancada, ele acelerava mais do que o necessário e parava colado na traseira do veículo, até que uma hora ele não conseguiu frear a tempo e bateu, amassando toda a frente de seu carro e o porta malas do carro da frente.
            Os dois motoristas descem dos veículos e começam um diálogo nada amigável:
            “O seu Zé Apressadinho, tá pensando que vai passar por cima de todo mundo?!” – disse o sujeito magro, marrento e de bigode ralo do Chevette que João bateu. Ele era bem menor que João, por isso ele não se intimidou e levantou a voz.
            “Vai tomar no seu cu, seu filho da puta. Tira essa merda da frente que eu tô atrasado!”
O sujeito do Chevette não agradou do tom de voz de João e partiu pra cima dele. Os dois começaram uma briga em plena avenida Rio Branco. João sabia jiu-jitsu e por isso levou a luta para o chão. Ele não cessava de bater a cara do sujeito de bigodes ralos no asfalto, mas, de repente, ouve-se um estalo e João fica imóvel. O sujeito marrento se livra dos braços de João e corre mancando para seu Chevette com a ajuda de seu amigo que estava no banco do carona e que acertou um tiro de 38 nas costas do “Zé Apressadinho”. Eles saem cantando pneu e tomam a pista de ônibus e somem das vistas de todos.
            As pessoas ligaram para ambulância que o levaram para o HPS. No hospital, João reuniu todas suas forças e deu seu celular com o número do telefone de sua mulher para a enfermeira ligar. Mas quando ela chegou no lugar João já havia morrido.

            E naquela noite a pequena Jéssica ficou triste porque seu pai teve que fazer uma viagem de urgência e não pôde vir no seu aniversário, mas que a apesar de tudo ele comprara seu presente, conforme sua mãe o entregou. Ela brincou a noite inteira com seu novo brinquedo com suas amiguinhas e na hora de apagar as velinhas ela desejou que seu pai nunca mais tivesse que fazer essas viagens de última hora. E quando o cansaço bateu, Jéssica foi dormir com a certeza de que seu desejo seria realizado.

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